Fico perplexo ao deparar
com o amadorismo que abarrota a (de)gestão pública. Seria o Brasil o país do
amadorismo?
Li
ontem, no portal G1, uma matéria jornalística que, mais uma vez, me deixou
perplexo. A matéria inicia-se da seguinte forma:
“Após a tragédia que matou mais de 230 pessoas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, várias cidades do país estão intensificando a fiscalização nas casas noturnas”.
A
redação da matéria é suficiente para identificarmos questões absurdas, porém,
normais e corriqueiras no “país do amadorismo”.
Nota-se
que
“após a
tragédia” tem-se inicio uma preocupação com a fiscalização. Nesse sentido,
fiscalização deixou de ter seu sentido original de prevenção para passar a atuar
como juiz: ação punitiva. É como se nas cabecinhas dos nossos (des)gestores
estivesse tal pensamento: temos que punir os empresários culpados de tragédias
como essa. Tal pensamento sugere que tais empresários constroem suas casas de
show do dia para a noite e que importa, agora em funcionamento, serem
fiscalizadas. Aff, é de o queixo cair sobre o dedão do pé.
Outro
ponto, ou melhor, aberração a ser destacada é que “várias cidades do país estão intensificando
a fiscalização nas casas noturnas”. Tal afirmativa induz o leitor a
acreditar que trata-se de um número significante de cidades, o que não é
verdade. Nota-se ainda que o foco são apenas as casas noturnas, como se as
irregularidades fossem centradas apenas ali. Será que precisamos ter novas (que
parecem já serem velhas) tragédias para que outras áreas de perigo possam
receber fiscalização, ainda em suas construção? Seria necessário, no “país do
amadorismo”, ocorrer tragédias em escolas, templos religiosos, circos, parques,
rodoviárias, restaurantes, bancos, entre outros lugares de grande público para
que haja fiscalização nesses locais?
É
de nos deixar perplexo com tanto amadorismo que abarrota a (de)gestão pública
(sem entrar aqui no mérito dos subornos tão comuns em casos de
fiscalização).
Dizem que o Brasil é o
país do futuro. Há nisso um fundo de verdade: por essas bandas precaução não
existe, preferimos o futuro... primeiro tragédia depois, só depois,
fiscalização... o pior que o depois está ainda em um futuro distante. Por ora
algumas poucas cidades passaram fazer uma fiscalização meia-boca. Por isso que
ao invés de “país do futuro”, prefiro o adjetivo “amador”.
Por Cristiano Bodart
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